quinta-feira, 4 de junho de 2009

IPANEMA, ANOS 40 - POR ARTUR DA TÁVOLA

Aqui cabem algumas palavras minhas:

Artur da Távola, a quem eu conheci em 1957 ainda como Paulo Alberto, tinha dois predicados que, somados, faziam dele uma pessoa especial: uma extrema simpatia e uma inteligência brilhante. Fomos vizinhos - eu ainda muito garoto – até 1964, quando teve que deixar o apartamento 302 da Rua Prudente de Moraes 266, onde morava com sua mãe, Dona Magdalena, para exilar-se no Chile. Diga-se de passagem, sua simpatia certamente foi herança de Dona Magdalena, um doce de pessoa.

A partir de 1968, quando voltou do Chile, continuou morando em Ipanema e acabou voltando para o mesmo prédio, só que dessa vez, já casado, morando na cobertura. Embora à época eu já tivesse me mudado, continuamos praticamente vizinhos e, não raro, nos esbarrávamos na rua para dois dedos de prosa. Esses encontros foram se espaçando, até porque Paulo Alberto acabou se mudando para a Barra, eu acho, mas há uns cinco anos, nos esbarramos pela última vez no Galeão, quando, entre dois cafezinhos, pela primeira vez o ouvi queixar-se de alguma coisa. A política e os políticos estavam enojando o então senador. E foi essa imagem de tristeza, a última que tive dele. Nada, felizmente, que possa apagar meu conceito sobre um dos mais ilustres e iluminados ipanemenses que conheci.

Ricardo Froes

IPANEMA, ANOS 40
(Extraído do CooJornal no 428)
Meu pai queria morar em Campo Grande à época, zona rural, porque ele era engenheiro agrônomo. Minha mãe insistiu para morar em Ipanema, por ter a intuição de ser um bairro com futuro. E assim meus pais, ele funcionário público, se mudaram em 1936, quando nasci, para uma vila de quatro casas à rua Visconde de Pirajá, Nº 172, entre a Teixeira de Melo e a Farme de Amoedo. Vivi até os 21 anos nessa vila que era o epicentro de meu universo. De lá eu soltei pipa muitas vezes; e também, da praia. Lá abri os olhos para a vida.

Embora adorasse ler e ouvir rádio eu já estava ficando meio moleque, e me lembro de ir tascar balão... Na época das festas de São João, caía muito balão em Ipanema. E a garotada saia feita louca: "tasca, tasca, tasca!". Nessa época havia festa de São João nos colégios e quermesse da Igreja Nossa Senhora da Paz na praça homônima e defronte que ficava cheia de barraquinhas. Eu já olhava para as meninas. Sentia uma coisa estranha que não identificava, mas emocionava.

Perto da minha casa e ao lado do Colégio Fontainha onde fiz o primário havia um bar que se chamava Renania, e depois veio a ser o famoso Jangadeiros. A esse tempo mudou de nome por causa da guerra. O bar era de um alemão, que tinha uma filha linda, chamada Cristina que foi minha colega de turma no Colégio Fontainha e depois no Andrews. Eram: ela e uma turquinha no mesmo quarteirão que depois sumiu, O antecessor do Jangadeiros era um bar mais para chopp... No balcão podíamos comprar queijo, arenque marinado, patês, pão preto, comida alemã, que à época era uma exceção. Meu pai gostava dessas comidas alemãs e costumava trazer para casa, inclusive um queijo fedorento e saborosíssimo chamado Linburgo.

Não existia supermercado., nem se falava nisso, era armazém. Perto de onde eu vivia a Casa Osório – onde se comprava arroz, feijão, batata, carne seca e se botava “na conta”, um caderninho que permitia a cobrança mensal. Tudo era em confiança. Quase ao lado de nossa casa ficava a Padaria Brasil do “Seu Abel”, e, quase ao lado, dela. uma confeitaria elegante a Confeitaria Pirajá, que era, por sua vez, uma filial da famosa Casa Heim, uma espécie de Lidador da época. Tudo perto. E havia a Farmácia Pirajá, cujo dono era um camarada grandão chamado seu Paixão. Perto também havia uma loja de brinquedos, a única do bairro, chamada Casa Umary. Eu e um amigo, o Ronaldo Ferreira Gomes, quando chegava a época do Natal, nós com 12 para 13 anos íamos “ajudar” na casa Umary e depois o dono nos “pagava” com um bom presente da loja. O pai desse meu amigo havia sido jogador do Flamengo o Vadinho, mas o nome dele era “Seu Osvaldo”. Para mim era um acontecimento conhecer e ser conhecido por um jogador de futebol. Era uma honra insuperável. E ele nos contava façanhas de seu tempo nos gramados.

Paralelamente ao cinema dos fins de semana (Ipanema ou Pirajá), outra realidade muito forte na infância dos anos 40 do século 20, foram as histórias em quadrinhos. Tinha o Tarzan, o Dick Tracy, que era um detetive formidável, o Charlie Chan, um detetive chinês que nunca deu um soco, mas resolvia tudo, e que depois foi para o cinema. Havia ainda o Fantasma Voador, o Bronco Piller, que era um caubói. O Príncipe Valente, com as histórias do tempo do Rei Artur, eram muito bem desenhadas e devem ter influenciado este meu pseudônimo. Eu o admirava, emocionado.

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