terça-feira, 5 de outubro de 2010

quarta-feira, 17 de junho de 2009

MILLÔR DENUNCIA: NO PASQUIM SÓ DAVA SUBURBANO - IPANEMENSE, SÓ ELE

QUEM TEM CAPA ESCAPA?

Por Millôr Fernandes, na Veja.

A primeira Capa do Pasquim foi com a efígie de Ibrahim Sued. Ibrahim, pra quem não conhece a história remota do Brasil, foi o grande precursor do Lula. Defendia, com grande ignorância, a ignorância, e o vale-tudo, em sua coluna no jornal O Globo. Eruditamente analfabeto, conseguia escrever uma coluna diária no jornal, na verdade escrita por jornalistas depois notáveis, como Elio Gaspari e Ricardo Boechat. Ibrahim só entrava com o analfabetismo. Que fazia o mais extraordinário sucesso. Chegou a ter 84% de aprovação.

Com a capa do Ibrahim dávamos início à nossa campanha pela contraincultura.

Capa, como o nome indica (não indica nada, eu que estou indicando), serve pra proteger, embelezar ou esconder. As capas do Pasquimserviam apenas pra sacanear. Nisso, em muitas ocasiões, tivemos a ajuda alegre de capados e encapados. Como aconteceu com a reportagem, já registrada nos anais da Academia e inserida no Google, de Leila Diniz. Corajosamente publicávamos exatamente o que ela dizia: um escândalo.

E vem a capa do Pitanguy, garotão lindo, todo deformado por uma plástica, Ipanema já saudada como abundante, a capa autocentrada "Quem comprar um Paulo Francis leva um Ziraldo de bonificação", a de Elke Maravilha, linda, então, gritando "Homem é uma delícia", bocona aberta prenunciando o boquete, unissex já muito apreciado mas ainda não institucionalizado. E vinha a capa do Silvio Santos, "o camelô que deu certo", o elogio ao jogging – que só no Brasil se chama Cooper –, o Pasquim elogiando o cooperfeito, Rogéria abrindo o escracho do escracho, e a capa que teve o mais gigantesco sucesso de vendas na pauliceia nem tão desvairada: "Todo paulista é bicha!".

Não, as capas, como o pessoal do Pasquim, como o uísque doPasquim, não tinham ideologia. Isto é, tínhamos uma extraordinária, rara, pretensiosa ideologia, a do "Não estamos nem aí!". Não era conosco. Não tínhamos nada a ver com a solução dos problemas da pobreza, com a nojenta utilização que os ricos fazem do dinheiro, com a mulher fazendo indignados ataques aos homens e se apropriando indevidamente de termos como "Não me enche o saco!", não dávamos a menor pelota às ameaças do polícia (tremíamos apenas, necessariamente, quando a polícia batia na porta, utilizando a porta dos fundos como saída de incêndio). Mas estávamos em todas, gozando no mais amplo sentido.

Na verdade influenciávamos o Brasil inteiro, porque não vivíamos no Brasil, vivíamos no Rio de Janeiro, ou melhor, em Ipanema.

Ipanema, ô meu? O Pasquim nunca foi de Ipanema. Nasceu na Rua Clarice índio do Brasil, em Botafogo. No auge da repressão mudou para a Avenida Copacabana, que, como o nome indica, fica em Copacabana. Como o auge de uma repressão é apenas o prenúncio de um auge maior, fugimos para a Rua Tasso Fragoso, no Jardim Botânico, e depois, no mais auge ainda, compramos a casa na Ladeira do Sacopã, hoje Milícia do Sacopã. No registro de imóveis, a última casa de Copacabana. Na verdade estávamos fugindo mais do fisco, da burocracia, do que do aparelho repressor armado.

E o bar, o glorioso Flag, que se tornou um ponto de encontro superquente, cheio de mulheres lindas (vamos manter o mito e a inveja), ficava nos fundos do Othon. Copacabana.

Tá bem, nenhum endereço era em Ipanema. Mas e aquela fogosa equipe? E a alegre rapaziada? Bem, Ziraldo, Tarso, Jaguar, Henfil, Sérgio Augusto, ninguém morava em Ipanema. E Sérgio Cabral, suburbano orgânico, morava do outro lado do canal da Visconde, Leblon. Privilegiado pela vista de Ipanema.

E toda a patota era branca de doer, tinha horror a praia.

O único que se sacrificava pelo bom nome do jornal, gastando todas as suas rendas (que nunca passaram de 20 000 dólares mensais) morando na Praia de Ipanema, e se matando de jogar frescobol nas areias escaldantes, era o orador que vos fala.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

ILHAS CAGARRAS

1- Ilha Cagarra; 2- Laje Mathias; 3- Ilha Redonda; 4- Ilha das Palmas; 5- Ilha Comprida.

Formadas pelo recuo e avanço do oceano Atlântico sobre o continente, ao longo de milhares de anos, em conseqüência de sucessivas glaciações (movimento de regressão do mar) e inter-glaciações (movimento de transgressão do mar), as ilhas do arquipélago das Cagarras são na verdade topos emersos de montanhas que, com a variação do nível do mar, isolaram-se e tornaram-se a ligar ao continente: montanhas e colinas foram sendo envolvidas pelas águas e converteram-se nas ilhas e ilhotas que conhecemos. O aspecto atual das ilhas que formam o complexo insular das Cagarras resultou da modelagem lenta e constante realizada por processos erosivos e sedimentares ao longo de milhões de anos. A característica geológica marcante das ilhas, que apresentam formas e alturas peculiares, é a presença de blocos monolíticos isolados, com formas arredondadas no topo, curvas suaves nas vertentes, e encostas sem arestas ou pontas escarpadas - formações essas cuja denominação geológica é "pão de açucar".

O arquipélago das Cagarras (23º01' S ; 43º12' W), com uma área de aproximadamente 2km², é um conjunto formado por três ilhas principais (da Cagarra Grande, de Palmas e Comprida), três ilhotas (Filhote da Cagarra Grande, Praça-Onze, e Matias) e sete lajes (Fedorenta, Cangulândia, Palmas, da Cagarra, Bom Jardim, da Âncora e do Focinho de Porco). As ilhotas Praça-Onze e Matias e a laje Fedorenta fazem parte de um prolongamento fragmentado da ilha Comprida, a mais extensa e baixa do arquipélago; a ilhota Filhote da Cagarra encontra-se separada da ilha da Cagarra pelo canal do Passarinho.

A cerca de 3,5km ao sul do arquipélago, encontram-se a ilha Redonda, a ilhota Filhote da Redonda e a laje da Redonda. A ilha Rasa ou do Farol, localizada a 5,5km à sudeste do arquipélago, e onde o Departamento de Hidrografia e Navegação da Marinha mantém um farol, é a mais afastada do complexo insular e a única ilha habitada de todo o conjunto. À oeste das Cagarras situam-se a ilha do Meio e o arquipélago das Tijucas (formado pelas ilhas Alfavaca e Pontuda), localizados respectivamente à cerca de 7km e 9km das Cagarras. Aproximadamente 7km à noroeste, a menos de 1km da costa, encontra-se ainda a ilha de Cotunduba (Coelho & Peixoto, 2003). A ponta da pedra do Arpoador, Ipanema, é o ponto da cidade do Rio de Janeiro mais próximo do arquipélago, a 3,5km da ilha da Cagarra Grande.

A zona costeira e a plataforma continental do sudeste do Brasil (do cabo de São Tomé, Rio de Janeiro, ao cabo de Santa Marta, Santa Catarina), com uma largura variando de 80 a 220km, sofre a influência das massas de água da Corrente do Brasil e das Águas Centrais do Atlântico Sul (ACAS). Devido à sua latitude, o arquipélago das Cagarras encontra-se na Zona de Transição, local que, devido às suas características climáticas intermediárias entre a zona tropical e subtropical temperada do Atlântico Sul, reúne componentes faunísticos tanto da província geográfica tropical brasileira e caribenha quanto da fauna do sul do Brasil e da Argentina. Caracteriza-se, portanto, pela representatividade de sua biodiversidade, em um local de relevante interesse científico e conservacionista. Essas ilhas e ilhotas recebem uma maior e mais longa influência das águas oceânicas, mantendo-se portanto, em grande parte do ano, limpas e transparentes. .

Quanto ao nome do arquipélago, a versão mais aceita é a de que tenha se originado de uma referência ao guano (excrementos de aves marinhas) que recobria os costões rochosos das ilhas de forma intensa, fazendo uma alusão à rica avifauna existente na época dos colonizadores portugueses que por isso as batizaram de "Ilhas Cagadas". Com alto teor de nitrogênio e fosfato, o guano é um fertilizante natural para o fitoplâncton, as algas microscópicas que constituem a base da teia alimentar dos ambientes marinhos.

De um ângulo pouco comum - do mar para a terra - a visão da cidade do Rio de Janeiro é incomparável, com as montanhas e a floresta que compõem o paredão do Maciço da Tijuca erguendo-se por trás da faixa de areia branca e dos prédios das praias de Ipanema e de Copacabana. Além disso, pode-se ainda contemplar os principais cartões postais da cidade tais como o Pão de Açúcar, o Corcovado, a Pedra da Gávea, a Pedra Bonita e os picos da Tijuca e do Papagaio.


quinta-feira, 4 de junho de 2009

OS PRIMEIROS - E ILUSTRES - MORADORES

Foram os primeiros moradores de Ipanema alguns dos homens mais importantes do Brasil naquela época. Um foi o Senador João Leopoldo de Modesto Leal, Conde de Modesto Leal pela Santa Sé (1860? -1936), e que tendo começado na vida como vendedor de sucatas, chegou a ser o homem mais rico da “República Velha”. Basta dizer que ele era o maior contribuinte do Imposto Predial da Capital da República, de 1902 a 1918. Era também Diretor da “Companhia Jardim Botânico” e grande acionista de outras empresas de bonde. Foi um dos fundadores do “Clube de Engenharia” em 1884. Foi dos primeiros “aventureiros” de Ipanema. Além dessa morada, possuía imensa chácara de veraneio em Paquetá, na “Praia Grossa”, comprada em 1930 de Henrique Lage, bem como trinta fazendas de café no “Vale do Paraíba”. Dizia-se que podia ir do Rio às Minas Gerais só percorrendo suas terras. Depois se mudou para Laranjeiras, onde até hoje existe seu imenso palacete.

Outro foi o banqueiro e Comendador José de Chaves Faria (1848-1915), que gostava de praia, pois foi também o primeiro morador do bairro do Leme. Chaves Faria era igualmente grande acionista da “Companhia Jardim Botânico”, e vereador, conseguindo que a Câmara aprovasse rapidamente o projeto de loteamento da “Villa Ipanema”. Não é de hoje que vereadores legislam em causa própria...;

Também montaram casa em Ipanema a Família Barreiros Vianna; a família do advogado e Senador Antônio Ferreira Vianna (1840? -1903), que foi Presidente da Câmara de Vereadores em 1869/73, e Ministro da Justiça em 1888/89, e do Império em 1889. Ferreira Viana foi de 1896 a 1903 advogado da “Companhia Jardim Botânico”.

Outro pioneiro foi o médico oftalmologista Dr. José Cardoso de Moura Brasil (1845-1928), grande benfeitor do “Liceu de Artes e Ofícios” e pioneiro da oftalmologia no Brasil.

Um dos mais lindos palacetes ecléticos da “rua 20” era o do Sr. Antônio Van Erven, vulgo “Libra Esterlina”, projetado pelo arquiteto espanhol Adolfo Morales de Los Rios.

Um irmão de Antônio, Luís Van Erven, era “Diretor Geral de Obras e Viação da Prefeitura”, Prefeito do Rio de Janeiro em 1898 e Diretor do “Clube de Engenharia”, e um de seus fundadores em 1884. Ele muito facilitou a edificação de novos prédios em Ipanema.

Contudo, foi o Cônsul Geral da Suécia, Dr. Johan Edward Jansson quem ergueu em 1904 a mais pitoresca residência no Arpoador, batizada de “Castelinho”, que ficava na esquina de Vieira Souto com Rainha Elizabeth, onde existia a famosa casa que era, efetivamente, um castelo neo-mourisco com sua famosa torre panorâmica. Anos depois o castelinho foi vendido à Família Catão, sendo tal a permanência desse nome, que em 1966, muitos anos depois de demolida a residência dos Catão, perto dela surgiu o bar “Castelinho”, na Avenida Vieira Souto no. 100, de grande fama e ponto de encontro da juventude, demolido em fins dos anos 70.

HISTÓRICO DAS RUAS DE IPANEMA

Rua Visconde de Pirajá por Augusto Malta
No ano de 1894, um relatório do engenheiro Malvino Reis informava existir no bairro uma ou outra casa boa de moradia, sendo as demais choupanas de pescadores, ou seja, pouco mudara desde as sete casinhas recenseadas em 1879. Já em 1902 existiam cinqüenta casas próximas ao Arpoador, com, aproximadamente, quinhentos moradores. Em 1906 já residiam em Ipanema 1.006 moradores, em 118 residências. Quatro anos depois, em 1910, eram 175 residências. No ano de 1920, o excelente recenseamento geral realizado pelo Governo Epitácio Pessôa acusou as seguintes construções:

Avenida Vieira Souto possuía 45 edificações, sendo 10 térreas, 32 sobrados, três em construção. Dos prédios da Vieira Souto, todos eram residenciais exceto dois: um era uma repartição municipal e o outro um clube, o “Country”. No ano de 1922 surgiria nela o “Colégio São Paulo”.

Na Prudente de Morais, assim batizada em 1917, homenageando ao primeiro Presidente Civil da República (1894-1898), o paulista Prudente José de Morais e Barro (1841/1902); existiam 51 edificações, sendo 15 térreas e 33 sobrados, mais três em construção. Todas eram residenciais.

Na Vinte de Novembro, reconhecida em 1917, rebatizada em 1922 para Visconde de Pirajá, em homenagem ao baiano, Coronel Joaquim Pires de Carvalho e Albuquerque, 1o. Visconde com Grandeza de Pirajá (1788-1848), o qual, de quebra, era irmão do Visconde da Torre e do Barão de Jaguaripe; existiam 94 edificações, sendo 43 térreas e 46 sobrados, mais cinco em construção. Todos eram residenciais exceto sete, eram casas de negócios (Bar Vinte, Padaria Ipanema, etc.) e uma agência dos correios.

Na 28 de Agosto, data do aniversário do Barão de Ipanema, mudou de nome em 1922 para Barão da Torre, em homenagem ao baiano, Coronel Antônio Joaquim Pires de Carvalho e Albuquerque, último senhor e administrador da Casa da Torre de Garcia D`Ávila, na Bahia, e que, em verdade, foi Barão e Visconde com Grandeza de Garcia D`Ávila(1774-1852); existiam noventa edificações, sendo 72 térreas e seis sobrados, mais duas em construção. Todas residenciais menos quatro. Uma escola, duas casas de negócios e um “centro espírita”, no 85.

Na Nascimento Silva, em homenagem ao engenheiro da antiga Prefeitura, Dr. Carlos Augusto Nascimento Silva, 1o. Diretor da Diretoria de Engenharia na República e Diretor da Companhia Ferro Carril do Jardim Botânico; só existiam dezenove edificações térreas residenciais.

Na Alberto de Campos, reconhecida em 1917, sempre teve esse nome, que foi de um genro do Barão de Ipanema; só três edificações térreas residenciais.

Na 16 de Novembro, que mudou de nome em 1922 para Jangadeiros, em homenagem a um grupo de pescadores do nordeste que fez um raid de jangada pela costa brasileira, do Ceará ao Rio de Janeiro; cinco edificações, sendo uma térrea, três sobrados e um prédio não residencial.

Na Farme de Amoedo, batizada assim em 1917, homenageando o médico da antiga Prefeitura; eram 51 edificações, sendo 49 térreas e dois sobrados. Destes, um era casa de negócios e outro era não residencial.

Na Montenegro, homenagem a um dos genros do Barão, Manuel Pinto de Miranda Montenegro, casado com sua filha Sofia Moreira. Desde 1983 rebatizaram-na a rua para Vinícius de Moraes; eram só seis casas, sendo quatro térreas, um sobrado e um em construção, todos residenciais.

Na Oscar Silva, que era o nome de um dos filhos do Coronel Antônio José Silva, mudou em 1922 para Joana Angélica, freira baiana, mártir e heroína na luta pela Independência na Bahia (1761/1822); eram cinco casas, sendo duas térreas e três sobrados, todos residenciais.

Na Otávio Silva, outro filho do Coronel, mudou de nome em 1922 para Maria Quitéria, a “mulher soldado do Brasil” baiana, outra heroína nas lutas na Bahia (1792-1835); não existia construção alguma.

Na Pedro Silva, mais um filho do Coronel, mudou em 1922 para Garcia D`Ávila, em homenagem ao desbravador da Bahia Colonial, Senhor da Casa da Torre, D. Luís de Brito de Almeida de Garcia de Ávila(1520?-1609); só existia uma casa em construção.

Na Dário Silva, idem, idem, hoje batizada em homenagem ao Almirante Aníbal de Mendonça, herói do Tenentismo; eram sete edificações, sendo duas térreas, quatro sobrados e uma em construção.

Na Henrique Dumont, sempre teve esse nome, dado em 1919, em memória do engenheiro Henrique Dumont (1832-1892), pai de Alberto Santos Dumont (1871-1932), inventor do avião; nada havia sido erguido. Pudera, era o limite do bairro, dando direto para o canal da Lagoa Rodrigo de Freitas, ainda sujeito a inundações. As ruas posteriores só surgiriam depois de 1938.

Na Teixeira de Melo, homenageando o escritor e educador José Alexandre Teixeira de Melo (1833-1907), Presidente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e Membro da Academia Brasileira de Letras; eram 28 edificações residenciais, sendo quinze térreas e doze sobrados, e uma em construção.

Na Gomes Carneiro, batizada em homenagem ao General Antônio Ernesto Gomes Carneiro (1846-1894), herói do “Cerco da Lapa”; eram 13 edificações residenciais, sendo cinco térreas, sete sobrados e uma em construção.

Na Praia do Arpoador, existiam 18 construções residenciais. Essa também mudou de nome em 1921 para Francisco Bhering, engenheiro e professor da “Escola Politécnica”, e pioneiro da radiotelegrafia no Brasil.

As praças não possuíam numeração própria. Todas as outras ruas surgiram entre 1922 e 1948.

A Barão de Jaguaripe, antiga rua 31, surgiu em 1921/1922. Era uma homenagem a Francisco Elesbão Pires de Carvalho e Albuquerque, Barão de Jaguaripe (1787-1856).

A Redentor, antiga rua 30, aberta em 1921/1922, foi rebatizada em 1928 em homenagem ao Cristo Redentor.

A Almirante Sadock de Sá, antiga rua 32, aberta em 1921/1922, foi rebatizada em 1933 homenageando ao herói do Tenentismo.

A Antônio Parreiras, aberta em 1948, batizada em homenagem ao pintor paisagista niteroiense Antônio Diogo da Silva Parreiras (1860-1937).

A Gorceix, aberta em 1933, batizada em homenagem a Henry Gorceix, engenheiro fundador da Escola de Minas.

A Paul Redfern, aberta em 1928, homenageando o aviador americano falecido em 1927 de acidente aéreo na costa do Brasil.

A avenida Epitácio Pessoa, assim batizada em homenagem ao paraibano, Presidente Epitácio da Silva Pessôa (1865-1942); no trecho de Ipanema, teve de 1919 a 1922 o nome de av. Ipanema. Os morros não eram habitados.

Quanto ao Leblon, existiam em 1920 apenas 195 prédios, sendo uma casa de negócios e quatro pensões. As casas se subdividiam pela Dias Ferreira (108), rua do “Pau” (29), “Praia do Pinto” (54) e “Pedra do Baiano” (4). A restinga do Leblon, sua orla e praia, estavam desertas como no século anterior.

Tudo isso totalizavam mais de 433 edificações em todo o bairro de Ipanema, (não incluindo aqui as tais 195 do Leblon) sendo onze casas de negócio, um clube, uma repartição federal (correio), uma municipal, uma escola particular e duas construções diversas não residenciais (uma era a estação dos bondes). A população beirava os 4.000 moradores.

A Firma Kennedy/Miranda fechou as portas em 1927. Não existiam mais terrenos disponíveis. Em princípio, a via mais procurada era a “Rua 20” e suas vizinhas, no trecho mais próximo ao Arpoador, haja vista que a água potável só chegava por canos vindos do “Posto 6”.

"BANHOS DE MAR"

Em 1900, ninguém de família ia à praia tomar banho, que era lugar de despejo, ou então local de tratamento de doentes por hidroterapia. O hábito de banhos de mar só toma vulto por volta de 1910, por influência dos hábitos franceses congêneres na Côte D`Azur. Prefeitos os mais diversos tentaram nas décadas de 10 e 20 normalizar os banhos de mar, estabelecendo horários para os mesmos, tanto no inverno quanto no verão, com severas disposições quanto aos trajes, particularmente os femininos.

A mais famosa legislação foi a do Prefeito Álvaro Alvim em 1917. O horário dos banhos era limitado. De 01 de abril a 30 de novembro era das 06:00h às 09:00h, e das 16:00h às 18:00h. De 01 de dezembro a 31 de março, era das 05:00h às 08:00h, e das 17:00h às 19:00h. Nos domingos e feriados havia uma tolerância de 01:00h a mais. Era exigido dos banhistas um vestuário apropriado e necessária decência. Eram igualmente proibidos ruídos e vozerio. A multa por infringir tais posturas era de 20$000 réis ou 05 dias de prisão.

Nada disso adiantou. A praia demoliu essas pretensões, firmando-se como território livre, característica que nem o Regime Militar conseguiu restringir. A praia era o território sem barreiras do Rio, onde não existiam diferenças sociais e todos andavam quase despidos.

Nos anos 70, o banho de mar havia se tornado tal especialidade dos ipanemenses que, em 1970, surge nas praias de Ipanema a famosa tanga, inspirada no vestuário sumário das índias brasileiras. As primeiras a usar foram as atrizes Leila Diniz e Tânia Scher, numa peça intitulada “Tem Banana na Banda”, estreada em janeiro no teatro “Poeira”.



IPANEMA, ANOS 40 - POR ARTUR DA TÁVOLA

Aqui cabem algumas palavras minhas:

Artur da Távola, a quem eu conheci em 1957 ainda como Paulo Alberto, tinha dois predicados que, somados, faziam dele uma pessoa especial: uma extrema simpatia e uma inteligência brilhante. Fomos vizinhos - eu ainda muito garoto – até 1964, quando teve que deixar o apartamento 302 da Rua Prudente de Moraes 266, onde morava com sua mãe, Dona Magdalena, para exilar-se no Chile. Diga-se de passagem, sua simpatia certamente foi herança de Dona Magdalena, um doce de pessoa.

A partir de 1968, quando voltou do Chile, continuou morando em Ipanema e acabou voltando para o mesmo prédio, só que dessa vez, já casado, morando na cobertura. Embora à época eu já tivesse me mudado, continuamos praticamente vizinhos e, não raro, nos esbarrávamos na rua para dois dedos de prosa. Esses encontros foram se espaçando, até porque Paulo Alberto acabou se mudando para a Barra, eu acho, mas há uns cinco anos, nos esbarramos pela última vez no Galeão, quando, entre dois cafezinhos, pela primeira vez o ouvi queixar-se de alguma coisa. A política e os políticos estavam enojando o então senador. E foi essa imagem de tristeza, a última que tive dele. Nada, felizmente, que possa apagar meu conceito sobre um dos mais ilustres e iluminados ipanemenses que conheci.

Ricardo Froes

IPANEMA, ANOS 40
(Extraído do CooJornal no 428)
Meu pai queria morar em Campo Grande à época, zona rural, porque ele era engenheiro agrônomo. Minha mãe insistiu para morar em Ipanema, por ter a intuição de ser um bairro com futuro. E assim meus pais, ele funcionário público, se mudaram em 1936, quando nasci, para uma vila de quatro casas à rua Visconde de Pirajá, Nº 172, entre a Teixeira de Melo e a Farme de Amoedo. Vivi até os 21 anos nessa vila que era o epicentro de meu universo. De lá eu soltei pipa muitas vezes; e também, da praia. Lá abri os olhos para a vida.

Embora adorasse ler e ouvir rádio eu já estava ficando meio moleque, e me lembro de ir tascar balão... Na época das festas de São João, caía muito balão em Ipanema. E a garotada saia feita louca: "tasca, tasca, tasca!". Nessa época havia festa de São João nos colégios e quermesse da Igreja Nossa Senhora da Paz na praça homônima e defronte que ficava cheia de barraquinhas. Eu já olhava para as meninas. Sentia uma coisa estranha que não identificava, mas emocionava.

Perto da minha casa e ao lado do Colégio Fontainha onde fiz o primário havia um bar que se chamava Renania, e depois veio a ser o famoso Jangadeiros. A esse tempo mudou de nome por causa da guerra. O bar era de um alemão, que tinha uma filha linda, chamada Cristina que foi minha colega de turma no Colégio Fontainha e depois no Andrews. Eram: ela e uma turquinha no mesmo quarteirão que depois sumiu, O antecessor do Jangadeiros era um bar mais para chopp... No balcão podíamos comprar queijo, arenque marinado, patês, pão preto, comida alemã, que à época era uma exceção. Meu pai gostava dessas comidas alemãs e costumava trazer para casa, inclusive um queijo fedorento e saborosíssimo chamado Linburgo.

Não existia supermercado., nem se falava nisso, era armazém. Perto de onde eu vivia a Casa Osório – onde se comprava arroz, feijão, batata, carne seca e se botava “na conta”, um caderninho que permitia a cobrança mensal. Tudo era em confiança. Quase ao lado de nossa casa ficava a Padaria Brasil do “Seu Abel”, e, quase ao lado, dela. uma confeitaria elegante a Confeitaria Pirajá, que era, por sua vez, uma filial da famosa Casa Heim, uma espécie de Lidador da época. Tudo perto. E havia a Farmácia Pirajá, cujo dono era um camarada grandão chamado seu Paixão. Perto também havia uma loja de brinquedos, a única do bairro, chamada Casa Umary. Eu e um amigo, o Ronaldo Ferreira Gomes, quando chegava a época do Natal, nós com 12 para 13 anos íamos “ajudar” na casa Umary e depois o dono nos “pagava” com um bom presente da loja. O pai desse meu amigo havia sido jogador do Flamengo o Vadinho, mas o nome dele era “Seu Osvaldo”. Para mim era um acontecimento conhecer e ser conhecido por um jogador de futebol. Era uma honra insuperável. E ele nos contava façanhas de seu tempo nos gramados.

Paralelamente ao cinema dos fins de semana (Ipanema ou Pirajá), outra realidade muito forte na infância dos anos 40 do século 20, foram as histórias em quadrinhos. Tinha o Tarzan, o Dick Tracy, que era um detetive formidável, o Charlie Chan, um detetive chinês que nunca deu um soco, mas resolvia tudo, e que depois foi para o cinema. Havia ainda o Fantasma Voador, o Bronco Piller, que era um caubói. O Príncipe Valente, com as histórias do tempo do Rei Artur, eram muito bem desenhadas e devem ter influenciado este meu pseudônimo. Eu o admirava, emocionado.

A HISTÓRIA DE IPANEMA

Ipanema em 1902 por Marc Ferrez
A restinga hoje ocupada pelos bairros de Ipanema e Leblon já era habitada desde priscas eras. Com efeito, há provas que os primeiros agrupamentos indígenas assentaram naquela região por volta do século VI. Um mapa francês de 1558 situa duas aldeias tamoias naquelas plagas, uma em Ipanema (aldeia “Jaboracyá”) e outra no Leblon (aldeia “Kariané”). Ambas sobreviveram aos primeiros anos da cidade, mas foram eliminadas em 1575 pelo “Governador da Parte Sul do Brasil”, Antônio de Salema, natural de Alcácer do Sal (152? -1586). Desejoso daquelas terras, Salema, em seu mandato de três anos (1575-1578) mandou colocar roupas de doentes nas matas da região, eliminando os índios por contágio. Na parte onde hoje está o Jardim Botânico, mandou erigir um engenho de cana, ao qual denominou “D`El Rei”. O engenho não deu certo de início e em 1584 foi sugerida sua venda. Quatorze anos depois, ele foi vendido ao Vereador Diogo de Amorim Soares, vindo da Bahia (1558? -1609?), que o rebatizou de “Engenho de Nossa Senhora da Conceição da Lagoa”. Soares, retirando-se da cidade em 1609, revendeu as terras no ano anterior a seu genro, Sebastião Fagundes Varela, natural de Viana do Castelo (1563-1639), casado com sua filha Da. Maria de Amorim Soares (1589-1676). Fagundes logo ampliou as instalações do engenho e, para tal, cobiçou para sua empresa os terrenos de marinha.

Os primeiros proprietários das praias da zona sul carioca, afora os índios tamoios, foram poucos portugueses. Em 1603 Antônio Pacheco Calheiros (1569? -1634), vereador em 1619, casado com Da. Inês de Leão, obteve enfiteuse de terras que iam do engenho de Diogo de Amorim Soares (Lagoa) até a “costa brava” (Leblon), correndo até a Gávea (Vidigal). Em 1606, Afonso Fernandes e sua esposa, Da. Domingas Mendes obtiveram carta de sesmaria da câmara que lhes davam o aforamento de “300 braças começadas a medir do Pão de Açúcar ao longo do mar salgado para a Praia de João de Souza (Botafogo) e para o sertão, costa brava, tudo o que houvesse”. Eram todos os terrenos de marinha do Leme ao atual Leblon, incluindo-se aí, é claro, a futura Ipanema. Pagavam foro de 1000 réis.

Em 1609, Da. Domingas, já viúva, trespassa esse aforamento a Martim de Sá (1575-1632), Governador do Rio de Janeiro (1602/08, e 1623/32), filho do então ex-Governador Salvador Corrêa de Sá, nascido em Barcelos (1542-1631, governou em 1568/72 e 78/98) para benefício do engenho que o mesmo possuía na Lagoa. Esse engenho, denominado de “Nossa Senhora das Cabeças”, não foi adiante, haja vista que Martim estava erguendo outro maior em terras que obtivera na aldeia de “Guaraguassú Mirim” (atual Barra da Tijuca). O aforamento então foi sendo aos poucos repassado, sucessivamente em 22 de junho de1609, das terras que iam desde o Pão de Açúcar até a “Praia Brava” (Leblon); em 23 de setembro de 1611 (mais terras); em 19 de julho de 1617 (para aumento de pastos); e em 1619 ao dono do “Engenho de Nossa Senhora da Conceição da Lagoa”, Sebastião Fagundes Varela. O aforamento era por 9 anos e tinha mais 400 braças para o sertão, permitindo a Varela explorar para pasto e extração de madeiras para seu engenho. Varela ficou assim, aos poucos, dono de todas as terras que iam do Humaitá ao Leblon. A extensão de suas posses abrangia 1700 braças de testada e 4.500.000 braças de área, que englobava a atual Lagoa Rodrigo de Freitas. Os terrenos pagavam foro de 6$400 réis ao “Senado da Câmara”. Esse latifundiário criava gado nessas praias, onde suas vacas pastavam entre cajueiros, ananases e pitangueiras.

Em 1702, a herdeira de Varela, sua bisneta, Da. Petronilha Fagundes (1671-1717), era uma solteirona de trinta e um anos, numa época em que as mulheres casavam com doze, ou até menos idade. Petronilha casou-se com um jovem oficial de cavalaria, Rodrigo de Freitas de Carvalho (1686-1748), natural de Suariba, Freguesia de Sam Payo de Visella, Termo da Vila de Guimarães. Ele com dezesseis anos. Alguns anos depois, em 1717, Rodrigo de Freitas, já viúvo, voltou para Portugal, onde passou a residir em sua quinta de Suariba. Lá morreu viúvo em 1748. Sua enorme fazenda, que englobava a Lagoa que lhe acabou por herdar o nome (e, igualmente, eternizar na topografia carioca o “golpista do baú” mais bem sucedido em nossa cidade...), será arrendada a particulares, ficando decadente até princípios do século XIX. Nada existia edificado. Ainda em 1645, o Governador Duarte Corrêa Vasqueanes proibira aos pescadores que edificassem suas casas na praia, com medo de um desembarque holandês para tomar o Rio de Janeiro.

Em 1808 o Príncipe D. João manda desapropriar o engenho da Lagoa por decreto de 13 de junho, com o fito de ali instalar uma fábrica de pólvora, aproveitando-se os terrenos circundantes para neles criar o Real Horto Botânico, origem do Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Ele visitou essas terras em janeiro de 1809, sendo mal recebido pelos escravos e feitor do engenho, que abaixaram as calças à sua passagem. D. João ordenou depois a prisão dos escravos e a perda de todas as mercês e benesses ao feitor e proprietários daqueles chãos.

Era herdeira daquelas terras Da. Maria Leonor de Freitas Mello e Castro (1773-183?), filha de Rodrigo de Freitas Mello e Castro (1740-1803), e bisneta do primeiro Rodrigo de Freitas. Procedeu-se a avaliação da propriedade e a indenização. Julgada a adjudicação por sentença de 30 de janeiro de 1810, foi estipulada a quantia, sendo as terras incorporadas aos próprios nacionais, com as formalidades da lei de 28 de setembro de 1835. Da. Maria Leonor recebeu por estas terras R$: 42:193$430 contos de réis, pagos após a Independência em 1826. Os terrenos de marinha, que não interessavam aos propósitos do Jardim Botânico, foram repassados.

FAZENDA DE COPACABANA (IPANEMA)
Toda a orla marítima da zona sul possuía então o nome de “Fazenda de Copacabana”, e foi adquirida em 1808 por Da. Aldonsa da Silva Rosa, uma chacareira. Da. Aldonsa não ficou muito tempo com ela, tendo-a revendido em 1810 ao português Manoel dos Santos Passos, que, ao morrer, legou em testamento para seu sobrinho Antônio da Costa Passos, ficando com elas até 1819. Antônio, assim como seu tio, legou as terras em testamento para seu filho, João da Costa Passos. João era, em 1827, administrador da Capela de Nossa Senhora de Copacabana, na Ponta da “Igrejinha”, erguida antes de 1746 (provavelmente em 1732) e depois demolida. João não ficou, entretanto, muito tempo com suas terras de Ipanema, vendendo-as em 1820 para Inácio da Silva Melo. Inácio, ao morrer em 1843, deixou tudo para dois sobrinhos, Francisco da Silva Melo e Francisco Nascimento de Almeida Gonzaga e eles logo depois venderam tudo em 1844 para Bernardino José Ribeiro. Ano seguinte, Bernardino vende tudo ao empresário francês Carlos Leblon (ele assinava assim, Carlos, e não Charles, como muitos afirmam) o qual instalou no final da praia sua fazenda e empresa de pesca de baleias, a “Aliança”. O negócio ia bem, pois das baleias “espermacetes” do gênero “cachalote”, abundantes em nossos mares, extraía-se o famoso óleo, que era usado não só como “concreto” em nossa construção civil, muito estimulada pelo crescimento da cidade no Segundo Império, como igualmente servia como combustível para iluminação, atividade incrementada por D. Pedro II, que mandou ampliar a iluminação pública das ruas do Rio por lampiões de óleo de baleia, principalmente depois de sua ascensão ao trono em 1841. A pesca fazia-se não só de barcas baleeiras, apelidadas de “Alabamas” por provirem tais naves deste estado americano, como também do alto das pedras da praia, que por este motivo apelidou-se “Arpoador” (lá pelos idos de 1964, eu mesmo cheguei a ver baleias perto do Arpoador).

Em 1851, Irineu Evangelista de Souza, Barão e depois Visconde de Mauá (1813-1889), iniciou as obras para poder proceder à iluminação a gás no Rio de Janeiro, com os primeiros postes na rua Direita, atual Primeiro de Março. Em 25 de março de 1854 foi inaugurado este serviço, atingindo outros bairros além do Centro. Com isso, caiu o negócio da pesca de baleias no Rio, tendo Carlos Leblon vendido suas terras da “Fazenda Copacabana” em 1857 ao tabelião e empresário Francisco José Fialho (1820? -1885), que adquiriu a parte que ia da atual rua Barão de Ipanema, em Copacabana, até o pico dos Dois Irmãos. Fialho, envolvido em vários negócios (dentre eles a restauração do “Passeio Público”), vendeu suas terras em 1878, divididas em dois grandes lotes.
A área do lote um, correspondendo ao atual bairro do Leblon foi retalhada em três grandes chácaras, vendidas a particulares, um deles o português José de Guimarães Seixas, famoso por manter um quilombo em sua chácara no “Morro Dois Irmãos”, onde hoje está o Clube Federal.

O lote dois, que era o maior, e ia desde a atual Rua Barão de Ipanema ao que é hoje o Canal do Jardim de Alah, abrangendo desde o atual posto V em Copacabana até toda Ipanema, foi adquirida pelo fazendeiro e Comendador José Antônio Moreira Filho, carioca, 2o. Barão com Grandeza de Ipanema (1830-1899). Empreendedor, José Antônio logo pensou em criar ali um novo bairro, que batizou de “Vila Ipanema”, em homenagem a seu pai, o 1o. Barão e Conde de Ipanema, José Antônio Moreira (1797-1879), que era paulista.

Vale aqui ressaltar que até então a praia era conhecida desde o século XVIII como “Copacabana”, ou “Praia Grande de Fora”, sendo o nome indígena “Ipanema” (literalmente “água ruim”, em tupi), tirado de uma das propriedades do Conde em Minas Gerais.

Em 1878 todo o local era a morada predileta dos socós, preás e tatus; abundavam cajueiros, pitangueiras, araçazeiros e ananases. Era tudo um imenso areal, com pobres choupanas de pescadores. As restingas do Leblon e de Ipanema eram desertas, pois não havia água potável. Um par de casas com a indicação de ser a chácara de Paulino Antônio Andrade, dado como sendo talvez o primeiro morador do bairro. Um levantamento de 1879 atestava que existiam na “Praia Grande da Restinga” apenas sete casas, das quais só uma era de construção perene. Nesse mesmo ano, sua vizinha, a restinga do Leblon, já era mais animada: existiam 49 casas residenciais (duas de sobrado) na rua do “Sapê” (atual Dias Ferreira), rua do “Pau” (atual Conde de Bernadotte) e “Praia do Pinto”.

Verdade seja dita, a Praia do Leblon propriamente dita era deserta. No mesmo ano Copacabana contava 58 residências, sendo uma de sobrado. Um dos motivos da baixa procura da “Praia da Restinga” para moradia eram as freqüentes enchentes provocadas pelas chuvas na Lagoa Rodrigo de Freitas, que, só possuindo um vazadouro para o oceano, alagava os terrenos circundantes, destruindo as casas. Para resolver esse problema, apresentou o Barão de Ipanema um plano ao Govêrno Imperial para o saneamento da Lagoa. Pretendia o Barão captar as águas da Lagoa por enorme cano com um metro de diâmetro e conduzi-las por duto até a altura de Copacabana, onde desaguariam no Atlântico. O plano não foi adiante e é bem difícil que resolvesse alguma coisa, pois para Tal deságüe precisar-se-ía de duto muito maior. Só em 1920 foram realizados os canais que resolveram o problema.

Os limites do futuroso bairro, à época eram: a “Praia Grande”, cortada de ponta a ponta em 1893 por um “boulevard”, origem da avenida Vieira Souto; o “Morro da Caieira”, depois rebatizado para “Cantagalo”; parte das areias de Copacabana; a “Praia de Fora”, hoje Praia de Ipanema; o bolsão entre Leblon e Ipanema, hoje canal do “Jardim de Alah”, que era o canal natural de descarga da Lagoa; a “Ponta do Pau Comprido”, hoje ilha do “Clube dos Caiçaras”; e a “Praia Saneada”, hoje é a av. Epitácio Pessôa.

Existiam apenas meia dúzia de simples trilhas por todo o areal, usadas pelos pescadores, trilhas essas que cortavam até a Praia de Fora. As principais vinham de onde hoje está a rua Aníbal de Mendonça (ex-rua Dário Silva, ex-rua Jangadeiros, reconhecida em 1922) até a rua Prudente de Morais (sempre teve essa denominação, reconhecida em 1917); da atual rua Garcia D`Ávila (ex-rua Pedro Silva, reconhecida em 1922) até a Barão da Torre (ex-rua 28 de agosto, reconhecida em 1917) e Praça General Osório (ex-praça Ferreira Viana, ex- praça Floriano Peixoto, reconhecida em 1922). Desta prossegue por caminhos onde hoje estão as ruas Saint-Romain e Francisco Sá, derivando por uma picada até a “Pedra do Arpoador”. Outras picadas davam em um descampado, onde hoje é a Praça N. Sra. da Paz (antiga Praça Coronel Henrique Valadares e Praça Souza Ferreira, reconhecida em 1917).
No ano de 1888 surgia a primeira rua com nome, a “Rua 20 de Novembro”, atual Visconde de Pirajá, batizada em homenagem às datas do aniversário e casamento da Baronesa de Ipanema, Da. Luiza Rudge, nascida a 20 de novembro de 1838, e casada nessa mesma data vinte anos depois. A Baronesa faleceu em 1891, sem ver o bairro desenvolver-se. Deixou cinco filhos: Luísa de Ipanema Moreira, José Jorge Moreira, Sofia Emília Moreira, Laurinda de Ipanema e Carlos de Ipanema. Quanto à “Rua 20 de Novembro”, o caminho primitivo já existia desde 1809. Era a rua interna da “Fazenda Copacabana”.

A empresa de urbanização do novo bairro foi formada em 1883 pelo Barão (titulado de “Ipanema” por decreto de 13 de março de 1885, ampliado para “Com Honras e Grandeza”, por decreto de 05 de julho de 1888) e por seu sócio, o Coronel Antônio José Silva (que não tinha título algum). Projetou as ruas o engenheiro da prefeitura e economista Luís Raphael Vieira Souto (1849-1922), que acabou sendo homenageado dando seu nome à via que margeava a praia. Antes teve o nome de avenida “Meridional”. A avenida foi duplicada em 1915/1916, quando ganhou arborização central. Na obra, trabalharam mendigos e desocupados recolhidos pela Prefeitura das ruas. Só tomou a denominação atual em 1917. Na época, não era a via mais importante.


BONDES PARA IPANEMA
A 27 de abril de 1893, o Prefeito Dr. Cândido Barata Ribeiro (1847-1910) fez uma excursão de inspeção à Copacabana, Leme e Ipanema. Como não estavam prontas as últimas duas linhas, o Prefeito saltou na estação de Copacabana, fazendo o resto do percurso a cavalo. Chegando à “Igrejinha” (era a Igreja de Nossa Senhora de Copacabana, fundada antes de 1746 e demolida em 1918. Hoje lá existe o “Campo de Marte” do “Forte de Copacabana”), embarcou o prefeito num bonde provisório ali assentado pelo Coronel José Silva, sócio do Barão, percorrendo então as obras de arruamento pelo Arpoador.

Curiosamente, o Coronel Silva mantinha uma atividade paralela de “peixeiro”, tendo solicitado permissão, em maio de 1893 ao Gerente Coelho Cintra, para atrelar um reboque com carregamento de peixes aos bondes da “Companhia Jardim Botânico”, com o fito de vendê-los na cidade. Desde 1869 era arrendatário por nove anos do “Mercado do Largo do Paço”, erguido em 1842 onde hoje está o prédio da “Bolsa de Valores”. O Coronel era também, desde 1896, Provedor da “Capela de Nossa Senhora de Copacabana”, sendo Vice-Provedor o médico João Ribeiro de Almeida, Barão Ribeiro de Almeida (1827-1908), Presidente da “Companhia Jardim Botânico”, ficando como Mesário o Barão de Ipanema. A permissão do transporte foi concedida e os “bondes peixeiros” rodaram por algum tempo, no que não deve ter agradado muito aos usuários. Uma prova disso é que em junho de 1899, o “Conselho Municipal” tentou proibir por lei os “bondes peixeiros”, mas o prefeito vetou a medida.

A 19 de janeiro de 1894, o Presidente da “Companhia Jardim Botânico”, engenheiro Malvino da Silva Reis (1830? -1896), que igualmente era vereador e Coronel da Guarda Nacional, assina um contrato com o engenheiro Prefeito Coronel Henrique Valladares, piauiense, visando levar as linhas de bondes para o Leme e “Igrejinha” (atual Posto VI). Quatro meses de frenéticas obras tornaram-na uma realidade.

INAUGURAÇÃO DE IPANEMA
A “Vila Ipanema” foi inaugurada a 15 de abril de 1894 pelo Prefeito Henrique Valladares, amigo do Barão e do Coronel Silva, que no mesmo dia estava também inaugurando a ampliação das linhas de bonde da empresa de “Ferro Carril do Jardim Botânico”, da Praça Malvino Reis (atual Serzedelo Correia), até a ponta da “Igrejinha”, próximo à rua Francisco Otaviano. A excursão oficial percorreu toda a linha de bondes, do Centro à Copacabana, indo primeiro ao Leme, depois à “Igrejinha”. Ao chegar neste ponto, houve a cerimônia oficial de inauguração e um banquete, tendo o Prefeito percorrido Ipanema por uma linha provisória de bondes puxados a burro por trilhos de madeira, que iam até o final do Arpoador, onde a “Sociedade Copacabana Sport” havia adquirido terras para ali erguer um grande estabelecimento de banhos. A iniciativa dessa linha provisória foi do Coronel Antônio José Silva, que foi estendendo os trilhos conforme os lotes eram vendidos. Esta primitiva linha de bondes sobreviveu até 1903.

Apesar da festa de inauguração ter sido no dia 15, só no dia 26 de abril de 1894 é que foi assinada por todos a ata de fundação definitiva do bairro “Villa Ipanema”. Em virtude disso, até hoje Ipanema comemora seu natalício em 26 de abril, e não a 15, como seria o lógico.

Vale ressaltar que o então Presidente da “Companhia Ferro Carril do Jardim Botânico”, Dr. Alfredo Camilo de Valdetaro, havia pedido em fevereiro sua demissão, por achar o empreendimento de levar as linhas de bonde a terras tão distantes um fiasco. Não fosse a prévia assinatura por seu antecessor, o Coronel Malvino da Silva Reis, de um contrato entre a “Companhia” e a Prefeitura para extensão da linha, tão cedo o bonde não chegaria à Ipanema. Na mesma época, a “Companhia Jardim Botânico” começou a promover o novo arrabalde, e colocou um cartaz em suas estações, dizendo o seguinte: “Bondes em quantidade para as Praias do Leme e Ipanema. O luar é encantador, sendo as noites muito frescas, graças aos ares do alto mar”. Como se percebe, possuía a “Companhia” muito interesse na prosperidade dos novos arrabaldes.

Já em 1896, o “Conselho Municipal” cogitava de outra linha para o Leblon, haja vista o sucesso da concessão anterior. Do termo de fundação consta a abertura de dezenove ruas e duas praças. Os critérios para escolha dos nomes dos logradouros foram os seguintes: 1o. homenagear parentes e datas alusivas à família do Barão; 2o. homenagear parentes e amigos do Coronel; 3o. homenagear personalidades e políticos envolvidos com a empresa. A prefeitura reconheceu essas ruas em 1917, mas mudou o nome de algumas. Logo depois, em 1922, o Prefeito Carlos Sampaio (1920-1922) mudou o nome de outras para homenagear vários heróis da “Independência do Brasil”, particularmente da Bahia.

A 27 de agosto de 1901 a Companhia Jardim Botânico assinou outro contrato com o engenheiro Prefeito João Felipe Pereira, cearense, comprometendo-se a levar os bondes até a Vila Ipanema, conquanto a “Companhia Urbanizadora” se comprometesse a abrir as ruas. No dia seguinte, foi inaugurado mais um trecho da linha da “Igrejinha”, chegando os bondes até a altura da atual rua Bulhões de Carvalho, antiga rua “Divisa”.

Em 1898 o Prefeito Luiz Van Erven, engenheiro e acionista da “Jardim Botânico”, isentou de qualquer imposto as construções do novo bairro, benefício que foi ampliado em 1902 para dez anos. Em 1905 o Prefeito Francisco Pereira Passos (1836-1913) voltou atrás e revogou tal decreto, submetendo Ipanema aos mesmos impostos de outros bairros da zona sul. Com a revogação de tal benefício, foi no ano de 1905 constituída uma empresa de urbanização para continuar os trabalhos do Barão de Ipanema e do Coronel Silva, que haviam falecido. Era dirigida por Raul Kennedy de Lemos e Octávio da Rocha Miranda (1884-1954). Raul Kennedy foi um dos maiores “grileiros” do Rio de Janeiro, tendo, durante muitos anos, demandado na justiça contra Otto Simon pela posse das terras de Copacabana, do Lido até a rua Paula Freitas.

BONDES ELÉTRICOS EM IPANEMA
Prefeito Joaquim Xavier da Silveira mandou instalar a luz elétrica no bairro em 1901, sendo oficialmente inaugurada em 20 de janeiro de 1902, quando ainda se contavam suas casas nos dedos das mãos. A luz ainda era fornecida pela “Societé Anonimé du Gaz”, cuja concessão era privilegiada. A “Light” só começaria a funcionar em 1907, quando inaugurou sua represa em “Ribeirão das Lages”. Só então começou a existir iluminação domiciliar, antes impossível.

Com luz elétrica no bairro, mesmo precária, pôde a “Companhia Jardim Botânico” estender sua linha de bondes elétricos até Ipanema em 1902, sendo o serviço inaugurado oficialmente pelo Prefeito Pereira Passos a 14 de junho de 1903 (naquela época, instalava-se o serviço primeiro, deixava-se funcionar por algum tempo, e aí sim depois se inaugurava oficialmente). A solenidade de inauguração da tração elétrica nos bondes foi muito concorrida, participando da mesma importantes personalidades. Dentre elas, merece destaque o Sr. Joaquim José Moreira Filho, representando seu irmão, o finado Barão de Ipanema.

Os bondes percorriam os doze quilômetros desde o Largo da Carioca até Ipanema em 80 minutos, com ponto final na “Praça Marechal Floriano Peixoto” (hoje General Osório), sendo que em 1903, foi a Praça oficialmente inaugurada pelo Prefeito Passos. Ele mesmo inaugurou a nova estação, na esquina da “Rua 20” com a praça (vale aqui o que já foi dito anteriormente. A dita estação já funcionava desde 02 de junho de 1902, mas só foi oficialmente inaugurada ano seguinte). Essa estação foi abaixo nos anos 60, sendo a construção antiga substituída por um prédio residencial moderno projetado por Oscar Niemeyer (n.1907). Ressalte-se que no mesmo dia era inaugurada a eletrificação do ramal do Leme. O Prefeito passos foi saudado por festas e muitos fogos de artifício e até explosivos de dinamite. Logo após as festas, sapecou uma multa de 50$000 na “Firma Kennedy/Miranda”, pois pouco antes editara postura proibindo fogos de artifício na cidade. Aparte a “gafe”, a inauguração foi um sucesso.

Esta “Praça Marechal Floriano Peixoto”, surgida em 1894, e que era mais importante do bairro de Ipanema, foi aterrada em 1905 com aterro do Morro do Castelo e das demolições no Centro resultantes da abertura da

Avenida Central. Recebeu em 1914 seu monumento mais antigo até hoje. O velho “Chafariz das Saracuras”, erguido por Mestre Valentim da Fonseca e Silva (1745-1813) em 1791 no pátio interno do Convento da Ajuda, no Centro, e dali removido quando da demolição do dito convento em outubro de 1911. Esse chafariz andou um pouco. Em 1911 foi colocado na “Praça Malvino Reis” e, três anos depois, levado para Ipanema.

No mesmo ano de 1914, a “Companhia Jardim Botânico” estendeu a linha de bondes até o “Bar 20”, no final de Ipanema, quando a rua ainda se chamava “20 de Novembro”. A “virada do bonde” era na “Praça 20 de Novembro”, hoje rebatizada para “Alcazar de Toledo (sic!)”. Em 1938 prolongaram a Visconde de Pirajá, que por meio de ponte passou a cruzar o canal da Lagoa, conduzindo os bondes ao Leblon sem precisar fazer o contorno pela praia.

Já o tal “Bar 20”, era na atual Visconde de Pirajá, quase esquina de rua Henrique Dumont. Fundado em 1903, durou até meados de 1950. Em 02 de dezembro de 1913 a “Companhia Jardim Botânico” obteve permissão da Prefeitura para estender suas linhas de bonde de Ipanema por Leblon e Gávea, mas a obra demorou muito. Como já foi dito, só ano seguinte a linha atingiu os limites do bairro. Em 1918 chegou ao Leblon, que ainda não possuía prédios na praia e muito depois à Gávea. Com isso a Delfim Moreira começa a ser valorizada. Em 1912 faziam a linha de Ipanema 45 bondes, durando o percurso 47 minutos desde o Centro. Os intervalos entre os veículos era de 10 minutos e, por dia, corriam 235 viagens.

Em 1916 usavam-se 49 bondes, levando o percurso do Centro à Ipanema 56 minutos. O intervalo de tempo entre as composições ainda era de 10 minutos, e o número de viagens ainda era 235 por dia. Para estimular a ocupação do bairro, a Prefeitura fez um acordo em 1916 com a “Companhia Jardim Botânico” para baixar o preço das passagens.

Como já foi dito atrás, até 1918 Ipanema era bairro final de linha. O bonde vinha de Copacabana pela Francisco Otaviano, ia até a praia de Ipanema e entrava na Teixeira de Melo, onde na esquina com rua Visconde de Pirajá ficava a estação.

Em 1914 o bonde passou a correr toda a Visconde de Pirajá, até a altura de Henrique Dumont, onde fazia a volta. Somente em 1918 seria construída uma ponte de concreto sobre o canal da Lagoa Rodrigo de Freitas, ligando a Vieira Souto à Avenida Delfim Moreira, aberta também em 1918, mas só inaugurada ano seguinte pelo Prefeito Paulo de Frontin (1860-1933). Então o bonde passou a descer pela Henrique Dumont até a praia, aí pegava a nova ponte sobre o canal e entrava na Delfim Moreira (ainda sem construções). Lá entrava pela Afrânio de Mello Franco (idem) e dobrava na Ataulfo de Paiva (idem), por ela percorrendo todo o Leblon.

Em 1920/22 essa ponte seria melhorada pelo Prefeito Carlos Sampaio, com projeto do engenheiro Francisco Saturnino de Brito (1864-1929) cujo filho, o também engenheiro Fernando Saturnino de Brito (1914-196?) era morador da Barão da Torre, 698; e, até 1938, foi a única ligação de Ipanema com Leblon. Quando era dia de ressaca, o Leblon ficava isolado. O dito bairro do Leblon só surgiria em princípios dos anos vinte, por intermédio da “Empresa Industrial da Gávea”, dos engenheiros Adolfo José Del Vecchio, José Ludolf e Miguel Braga. Só a partir de 1918 ganhou bondes e benefícios urbanos e pôde então sediar belas casas na praia.

Diga-se a verdade, o Engenheiro Del Vecchio era o grande “remendão” das praias da zona sul, haja vista que ele reconstruiu as avenidas Atlântica, Vieira Souto e Delfim Moreira, após as três grandes ressacas que destruíram- nas em 1918, 1921 e 1923.

No ano de 1931, apenas doze bondes faziam a linha de Ipanema. Apesar de serem menos veículos, eram mais eficientes, pois o número de viagens/dia continuou sendo 235, o tempo entre as composições continuou a ser dez minutos, e o número de passageiros aumentou, já que os novos bondes eram maiores e mais rápidos.

Nos anos 30, a “Light” fez uma casa de força para o serviço dos bondes elétricos, na Teixeira de Melo, 57. Graças a isso, em 1938, fez-se a conexão da linha dos bondes elétricos do Leblon com os da Gávea. Eram então quatro linhas de bondes passando pelo bairro.

A partir de 1909, foi arrendada por contrato parte da “Companhia Ferro Carril Jardim Botânico” a “Light”, entretanto, continuou como companhia independente até 1946, quando foi incorporada definitivamente e passou a pertencer à “Light”. Depois da 2a. Guerra, em 1950, desinteressou-se a “Light” pelos bondes, já que a legislação da época dificultava a importação de peças. Ao mesmo tempo, a “Light” estava investindo em ônibus a diesel, considerado o transporte coletivo mais eficiente naquele momento. Com a criação do “Estado da Guanabara” em 1960, iniciou o governo estadual guerra à “Light”, pois era objetivo político a “estadualização” dos transportes coletivos. Em 1962 o Governador Carlos Lacerda (1914-1976) extinguiu os bondes de Ipanema, tomando os motorneiros “porre” de despedida no “Bar Zeppelim”.

ÔNIBUS PARA A ZONA SUL
A primeira linha de ônibus para a Zona Sul da cidade surgiu em 1908, por iniciativa de Octávio da Rocha Miranda, com ônibus saindo do Centro para a Urca. Sua intenção era levar uma linha para Ipanema, mas a “Companhia Jardim Botânico” fez muita oposição. Só depois que a “Light” encampou a Companhia em 1916 é que surgiram as primeiras linhas de ônibus para Copacabana.

A linha de ônibus para Ipanema surgiu em 1923, ligando o Centro à Ipanema e Leblon. A iniciativa coube ao português Manoel Lopes Ferreira (1873-1931), que criou uma companhia para tal finalidade. Posteriormente, a própria “Light” criaria sua empresa de ônibus, a “Excelsior”, com várias linhas para Copacabana, Ipanema e Leblon. Durante a Segunda Guerra Mundial, a crise de combustíveis fez com que diminuísse muito o número de ônibus em circulação, deixando o maior encargo dos transportes para os bondes, que não davam conta do recado.

Em conseqüência disso, surgiram os “lotações”, veículos “piratas” que transportavam passageiros. O mais famoso, e que fazia a linha de Ipanema foi o célere “Lagosta”, que era um carro de passeio adaptado, expandido com outra carroceria para receber até doze passageiros. Era todo pintado de abóbora, daí o apelido. Eu ainda cheguei a vê-lo, estacionado no Humaitá, em meados de 1960, ainda com a cor original. Funcionava então como veículo turístico. Foi o antepassado das nossas “vans”.

O EXEMPLO

Nosso querido amigo Décio ganhou matéria especial no ano passado em O Globo. Clique na foto para ampliar.